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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Profissionais sentem necessidades dos cadeirantes


Um dos momentos mais delicados de todo o processo é o desembarque. Onde os funcionários precisam ter muita atenção para evitar acidentes

- Motoristas e cobradores passam por treinamento de acessibilidade cidadã no transporte público de Teresópolis


Um dos maiores desafios da chamada mobilidade urbana sustentável talvez seja garantir a acessibilidade plena dos cadeirantes e portadores de necessidades especiais no âmbito do transporte público. Desafio que se transformou em meta estipulada por Lei, o processo de adaptação dos veículos conta com inovações tecnológicas e programas específicos em todo país. Mas uma arma muito conhecida do brasileiro pode ser a saída para a implantação eficiente dessas alterações: a criatividade.
Um programa implantado em nossa cidade pergunta: o que você sentiria se visse o ato de utilizar um ônibus da perspectiva de um cadeirante? Essa é a proposta de um treinamento adotado pela empresa Dedo de Deus para capacitar seus funcionários quanto à garantia da acessibilidade dos cadeirantes em suas linhas. Nele, motoristas e cobradores recebem instruções teóricas, discutem as necessidades dos cadeirantes e experimentam a sensação da privação dos movimentos e utilização da cadeira de rodas.
Além dos funcionários de frente, ou seja, motoristas, cobradores e fiscais, todo o efetivo da Viação passa pelo programa de treinamento para cadeirantes

Como é ser um cadeirante

Para garantir esse treinamento, a empresa contratou um cadeirante que além de explicar técnicas de segurança e utilização do equipamento mostra aos profissionais como é ser de verdade um cadeirante. Walace Cabral, foi o escolhido para essa missão e falou da responsabilidade e privilégio de participar do programa. “É muito importante a gente poder promover a acessibilidade em todos os sentidos, e esse é um exemplo para todo o Brasil, haja vista que nós estamos efetivamente promovendo a acessibilidade, não só como um simples conceito. Os profissionais estão sendo treinados dentro da forma exigida pelos padrões de segurança e atendimento, tanto no embarque quanto no desembarque destes cadeirantes. Para mim, especialmente, é um desafio muito grande, um privilégio maior ainda, mas acima de tudo uma responsabilidade grandiosa. Mas como vivo estes problemas todos os dias posso passar com mais espontaneidade para nossos companheiros profissionais esses problemas”, enalteceu Cabral.

Dimensão

Muito conhecido na cidade, Walace ainda falou da outra dimensão dessa iniciativa, o cunho social da ação. “O legal da iniciativa da empresa, e queria dar os meus parabéns, é justamente o fato dos motoristas e cobradores estarem curiosos, ou seja, essa curiosidade foi despertada, e eles perguntam muito, cobram explicações sobre algumas práticas, enfim, é muito bacana essa interação. Depois que iniciamos o processo tenho usado o transporte público todos os dias e percebo que já há mudança de comportamento. É claro que a plenitude do atendimento capacitado é algo que virá com o tempo, ainda temos muitas turmas para participar desse programa, mas hoje já temos algo muito positivo acontecendo na cidade”, explicou.
Nossa equipe acompanhou todo o processo de experimentação dos funcionários da Dedo de Deus no pátio da empresa. Motoristas e cobradores revezavam na função de funcionário e usuário, desde o momento da parada no ponto, até o delicado desembarque, que precisar ser precedido de cuidados especiais.
Na simulação, Walace Cabral, propõe o exercício de mentalização dos processos dificultosos vividos pelos cadeirantes quando usam o transporte público

Reação imediata

Quem explicou o fato motivador do projeto foi a coordenadora de treinamentos da empresa, Tatiana Veiga. “Essa iniciativa do treinamento com um cadeirante surgiu depois de um fato que aconteceu na cidade, quando um cadeirante não conseguiu ser atendido como nós entendemos que seja o ideal. Ele tentou embarcar e não conseguiu por uma série de motivos despertando assim nossa reação imediata. A diretoria se reuniu e decidimos procurar uma pessoa que pudesse nos dizer exatamente o que precisa para ser bem atendido, em sua plenitude, um cadeirante. Entramos em contato com o Walace que se prontificou a organizar o treinamento e decidimos implantar não só na área de frente, ou seja, motoristas e cobradores, mas a empresa toda. Todos os nossos funcionários estão sendo treinados”, disse Tatiana.
O caso citado por Tatiana foi registrado por nossas lentes em fevereiro deste ano, quando o aposentado Ronald da Silva, tentou usar um dos ônibus que passam pelo Centro e depois de sinalizar para dois veículos e receber repetidamente a notícia de que os elevadores hidráulicos estavam quebrados, não se conteve e protestou colocando sua cadeira na frente do coletivo.
Na simulação, Walace Cabral, propõe o exercício de mentalização dos processos dificultosos vividos pelos cadeirantes quando usam o transporte público

Elevador quebrado

“Eu estava aguardando o ônibus e veio um que estava com o elevador quebrado. O motorista me pediu desculpas e disse que estava vindo um outro logo atrás. Esperei e não veio. Depois de muito tempo, o ônibus seguinte também estava com o elevador quebrado”, reclama Ronald. Indignado, o homem tratou de colocar sua cadeira de rodas na frente do coletivo. “Isso não pode continuar assim. Tive de tomar essa atitude porque é a única forma das pessoas nos ouvirem. Ninguém quer ouvir os deficientes, as pessoas de idade. Não há interesse”, disse na época Ronald. O aposentado ainda disse que aquela não era a primeira vez que isso acontecia. “Teve uma vez aqui que eu fiquei parado e foram cinco ônibus que passaram com os elevadores quebrados”, garantiu.
Mas a inciativa da empresa acabou provocando também uma mudança na parte técnica e da manutenção, como explica Marcelino Ferreira, um dos coordenadores de instrução da casa. “A empresa tem a missão de transportar com responsabilidade. O que é isso? É atender bem o cliente na pontualidade, na segurança e no cuidado com a frota, que deixa o transporte mais confortável e confiável. Nós nos preocupamos acima de tudo, na segurança do transportado, e o público de cadeirantes é uma prioridade para a empresa. Nesse sentido estamos desenvolvendo no intenso calendário de treinamentos que nossos funcionários recebem, esse programa especifico para proporcionar mais segurança e conforto para os cadeirantes. Também podemos proporcionar maior durabilidade aos equipamentos instalados nos coletivos, que são delicados e exigem cuidado especial para garantir o seu pleno funcionamento. Se a rampa não estiver funcionando, todo o trabalho de capacitação é jogado fora. Nesse sentido mantemos uma equipe dedicada a manutenção diária dos equipamentos, como forma de garantia que nenhum carro saia da garagem com a falta da funcionalidade destes equipamentos. Queremos que nossos clientes se sintam felizes durante o transporte, a ponto de querer deixar o carro ou a moto em casa e optar pelo transporte público”, enalteceu Marcelino.
Motoristas e cobradores recebem instruções teóricas, discutem as necessidades dos cadeirantes e experimentam a sensação da privação dos movimentos

Mudança

O motorista Renato César explicou que a categoria gostou da mudança e tem usado os botons, que ilustram os que já passaram pelo curso, com muito orgulho. “Acho que os profissionais estão muito felizes com essa oportunidade. Faz toda a diferença enxergar o ato de entrar no ônibus do ponto de vista dos cadeirantes. Mesmo que dominando todo o funcionamento do equipamento não é possível entender o que sente o cidadão que precisa desse serviço diferenciado, estar no lugar do cadeirante faz toda a diferença no momento da prestação do serviço. Acho que os motoristas e cobradores hoje são pessoas mais sensíveis ao problema, não por não entenderem essa necessidade antes, mas por poderem sentir na pela essa mudança”, disse o motorista. A empresa estuda implantar posteriormente ao termino do programa de acessibilidade motora, um programa de capacitação em Libras, para que a acessibilidade se dê de maneira mais eficaz.
O instrutor Walace agora espera que o poder público também faça a sua parte nesse processo. “Nós agora esperamos que a via pública esteja preparada para receber essa tecnologia de acessibilidade e, assim, o poder público faça efetivamente a sua parte. Hoje nós temos motoristas e cobradores preparados para atender bem esse público e veículos inteiramente adaptados para o transporte seguro e confortável dessas pessoas, mas falta que nossas calçadas e pontos de ônibus estejam preparadas para que o equipamento funcione, e essa é uma prerrogativa do Executivo municipal, a nossa parte, enquanto ente privado está sendo feita, e muito bem feita diga se de passagem”, finalizou Walace.

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