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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Intercâmbio de ideias

A evolução do esporte paraolímpico brasileiro, os projetos do CPB (Ouro, Clube Escolar Paraolímpico, Academia Paraolímpica) bem como o aumento no número da cobertura midiática foram alguns dos assuntos pautados na reunião que ocorreu na manhã desta sexta-feira, 28, no Comitê Paraolímpico Brasileiro.

O Assessor de Relações Institucionais do CPB, Luiz Garcia, apresentou os dados do salto no quadro de medalhas dos Jogos Paraolímpicos bem como os projetos do CPB ao Diretor de Comunicação do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido (FCO), Andrew Whyte, o Gerente de Diplomacia Pública e Campanhas Estratégicas do FCO, Andrew Pike, Philip Everest; 3º secretário da Embaixada da Grã Bretanha; e Glauco Paiva, do Consulado Britânico.

No início da reunião, foi apresentado um vídeo sobre a participação nacional nas Paraolimpíadas de Pequim. No geral, o encontro foi uma troca de experiências e intercâmbio de ideias onde foram apresentadas perspectivas brasileiras em relação à participação em Londres 2012 bem como os desafios da organização para as Paraolimpíadas do Rio 2016. Os britânicos também expuseram o panorama geral do andamento das ações para os Jogos de Londres.

Outro assunto amplamente discutido foi o legado que Londres deixará para atletas e público após a realização dos Jogos, um dos principais objetivos da campanha do FCO.

“Sabemos que a visão de Londres após 2012 pode ser transformada, além dos benefícios econômicos e culturais que a cidade pode ganhar. Queremos que tanto a população e público quanto os atletas se sintam bem na realização da competição. Para isso, vamos nos empenhar e trabalhar para que a cidade seja acessível a todos – tanto olímpicos quanto paraolímpicos. Isso inclui melhorias no transporte e nas construções em si”, explanou Whyte.

Garcia apresentou, também, um pouco das estratégias do CPB, que pulou do 24º lugar nos Jogos de Sydney para o nono lugar em Pequim. O patrocínio das Loterias CAIXA, a Lei Agnelo Piva e a compra de direitos de transmissão – que ajudaram a consolidar o esporte paraolímpico- foram alguns dos itens expostos na reunião.

Desde esta quinta-feira, 27, o CPB e a Embaixada da Grã Bretanha participam de reuniões em conjunto.

“Esse encontro faz parte de uma ação ampla que visa tanto a preparação para os Jogos de 2012 quanto a organização das Paraolimpíadas do Rio, em 2016. Além disso, tratamos nessas reuniões de assuntos que são importantes para as pessoas com deficiência”, disse Mizael Conrado, vice presidente do CPB, após a reunião de quinta-feira.

No próximo mês, 14 de fevereiro, ocorrerá em Brasília o “Conexão Paraolímpica”, com objetivo de destacar a importante relação entre esportes e reabilitação e o nascimento do movimento paraolímpico. Estarão presentes a diretoria do Rede Sarah e do Hospital Stokemandeville.

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Ações do documento

Circuito Brasil Paraolímpico 2011

O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), por intermédio do seu Departamento Técnico (DITEC), abre as inscrições para as Etapas Regionais do Circuito Brasil Paraolímpico de Atletismo, Halterofilismo e Natação 2011 a serem realizadas nas cidades de Fortaleza/CE, Curitiba/PR, Brasília/DF e Campinas/SP, nos períodos de 18 a 20 de março, 22 a 24 de abril, 27 a 29 de maio e 24 a 26 de julho, repectivamente. Os prazos para as inscrições de cada Etapa Regional estão disponibilizados no Regulamento Geral do evento, disponível na página do Circuito Brasil Paraolímpico que pode ser acessado pelo link http://www.cpb.org.br/esportes/circuito-brasil-paraolimpico, assim como os demais documentos relevantes.

O procedimento para acesso ao formulário on-line de inscrição permanece o mesmo do ano de 2010. Basta acessar o link http://www.cpbextranet.org.br/ e entrar no sistema com login e senha.

Caso algum clube ou associação esteja interessado em participar das Etapas Regionais do referido evento, mas ainda não possui cadastro validado pelo CPB, este deverá entrar em contato com o DITEC para obter as devidas orientações. Estas também permanecem as mesmas do ano passado, isto é, deverão seguir as exigências do Regulamento de Cadastro de Clubes e Atletas (acesse aqui).

Para esclarecimento de dúvidas, o DITEC coloca-se à disposição no telefone (61) 3031-3030.

Etiqueta em braile deixa moda mais acessível


A inclusão social está desembarcando na moda brasileira. Uma etiqueta de roupa especial, com informações do produto em braile, foi lançada recentemente na Première Brasil, maior salão Têxtil da América Latina. A iniciativa parte de uma das grandes empresas do setor, a Haco, que durante dois anos pesquisou a funcionalidade e viabilidade do produto com a Associação dos Cegos do Vale do Itajaí (Acevali).

A empresa arredondou a ideia, que já pipocava no mercado entre pequenos confeccionistas, possibilitando agora sua aplicação em grande escala. Isso significa que grupos com representação no mercado nacional, como uma Hering, têm meios de incorporá-lo. Ainda não há lei que obrigue as empresas a adotar a etiqueta em braile - somente projetos em discussão no Congresso -, mas ter a infraestrutura para que isso aconteça é um começo. "Trata-se de um jeito informal para que a etiqueta vire um padrão", diz Geraldo Lima, professor da Faculdade de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

Em 2003, Lima pesquisou durante quase um ano em institutos como o Dorina Nowill e o Padre Chico sobre as necessidades do consumidor cego. A partir daí, numa atitude pioneira, incluiu em todas as peças de sua confecção, a Urânio, uma etiqueta emborrachada em braile que descreve a cor do produto. "Mesmo quem não enxerga consegue perceber informações como textura e modelo. E se você adiciona muita informação, a etiqueta fica enorme, porque o braile ocupa mais espaço do que as letras do nosso alfabeto."

Modelo. A etiqueta da Haco pretende ser um de tamanho regular. O confeccionista escolhe o material - tecido, borracha e tag de papel craft - e as informações que quer adicionar em braile. Mas há outros tipos no mercado. A grife Virgemaria criou uma transparente, que vem com um adesivo em PVC, para que o cliente possa aplicá-la na parte da roupa que quiser. "Ainda colocamos na frente um bordado para ajudar o cego a distinguir um lado do outro."

A Virgemaria fez o teste com a etiqueta no ano passado. "Fiquei convencida de que o investimento valia a pena quando uma cliente que não enxergava vibrou de felicidade com a novidade", conta Ana Pasternak, de 38 anos, estilista da marca. "Ela disse que agora poderia, pela primeira vez, comprar roupa sem a ajuda de uma amiga ou parente. Representava sua independência."

Acessibilidade. "Não é apenas o deficiente que fica de fora da moda", diz Ana. "Há muitas pessoas que não se encaixam no padrão do mercado, seja pelo peso ou pela altura." No ateliê da grife, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, os modelos são desenvolvidos com base na estética e na funcionalidade. Camisas com botão de pressão, uso de elástico em calças e tantos outros detalhes que facilitam o uso por pessoas que tenham qualquer tipo de deficiência.

Até pontos de vendas descolados, como a Galeria Mundo Mix, nos Jardins, embarcaram na ideia da roupa acessível. Há um mês, as prateleiras da loja receberam a nova coleção Easy Put, resultado da parceria entre o Instituto Mara Gabrilli e a marca Hey!U. A coleção começou com camisetas (de R$ 35 a R$ 50), vendidas com duas etiquetas, uma normal de tecido e outra em braile, de papel, com o tamanho, a cor e a estampa do modelo.

Como o papel é destacável do produto, as mesmas informações foram colocadas na barra, com strass. "O total arrecadado vai para o Instituto Mara Gabrilli desenvolver uma coleção de roupas acessíveis", diz Beto Lago, dono da Galeria Mundo Mix. "Virei parceiro do projeto porque pretendo que a loja vire referência para todos os movimentos da moda. E a inclusão social é um deles", afirma.

Não cometa gafes
Ao encontrar um cego em um cruzamento, ofereça ajuda, mas pergunte como fazer isso. Antes de guiá-lo, deixe que ele pegue em seu braço, e não o contrário. Seja preciso ao indicar locais. Não diga que está logo ali. Nas lojas, os vendedores costumam se dirigir ao acompanhante do deficiente visual, como se ele não pudesse decidir. Os cegos reclamam disso.

Fonte: http://www.estadao.com.br/ e http://www.deficienteciente.com.br/

Brasil é 3º no Mundial de Atletismo

O Brasil confirmou seu excelente desempenho no Campeonato Mundial Paraolímpico de Atletismo e encerrou a competição neste domingo, 30, com uma prata e um bronze na maratona T46. Tito Sena, campeão mundial e medalhista paraolímpico, chegou em segundo na prova de Christchurch/Nova Zelândia. Ozivam Bonfim conquistou a última vaga no pódio. O ouro ficou com o mexicano Mario Santillan Hernandez. Com o resultado, o Brasil ultrapassou a Grã Bretanha em número de pratas e terminou o Mundial em terceiro no quadro geral de medalhas, atrás apenas de China e Rússia. 17 atletas dos 25 que defenderam o país subiram ao pódio.

“Essa posição mostra a força do atletismo paraolímpico brasileiro. Mais de dois terços dos atletas da seleção brasileira estão entre os três primeiros do mundo”, destacou o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons.

A meta da comissão técnica era pelo menos igualar ao resultado das Paraolimpíadas de Pequim 2008, quando o País ficou em 10º, com 15 medalhas, quatro delas de ouro. O resultado foi muito melhor.

“O crescimento técnico em relação ao último Mundial e às Paraolimpíadas foi grande. Isso é fruto da nossa estratégia de trazer um número menor de atletas. Assim conseguiríamos prepará-los melhor e teríamos maior qualidade”, explicou o diretor técnico do CPB, Edílson Rocha Tubiba.

O terceiro lugar no quadro de medalhas reflete o crescimento do atletismo paraolímpico brasileiro e traz mais responsabilidades para o País nas próximas competições.

“Disputamos a terceira posição com a Grã Bretanha, que receberá as Paraolimpíadas ano que vem e tem tido investimento. Isso significa que estamos fortes. Temos que transformar essa oportunidade de sediar uma Paraolimpíada para investir também. Temos áreas que ainda estão descobertas”, ressaltou Parsons.

“O Brasil é hoje uma das potências do Esporte Paraolímpico. Agora, todo mundo quer nos superar. Por isso precisamos aumentar a base de medalhistas. Temos que consolidar algumas provas e investir na renovação”, justificou Tubiba.

Uma das áreas de deficiência que se destacou, na avaliação do diretor técnico do CPB, foi a de pessoas com deficiência física, que conquistou sete medalhas.

“Temos os cegos mais rápidos do mundo, tanto no masculino quanto no feminino. Mas o Brasil já tem tradição nessa área. Neste mundial vale destacar a recuperação de resultados entre os deficientes físicos: tivemos o Yohansson e o Alan, jovens talentos, como representantes desse segmento”, explicou Tubiba.

Terezinha é a grande campeã. Mulheres crescem
As mulheres também se destacaram na delegação brasileira neste mundial. Terezinha Guilhermina conquistou quatro medalhas douradas e foi um dos principais nomes da competição.

“Isso é uma coroação especial porque trabalhei muito para chegar aqui. Eu me prometi que neste Mundial não erraria. Fechar com as quatro medalhas de ouro mostrou que consegui chegar ao meu 100% e, mais importante, que consegui fazer o meu melhor em cada prova”, comemorou Terezinha.

Além disso, em Christchurch as mulheres brasileiras foram responsáveis por nove medalhas, o maior número até aqui. Em Pequim 2006 elas subiram ao pódio oito vezes e no Mundial de Assen, em 2006, apenas cinco. A evolução é resultado de um trabalho constante desenvolvido pelo CPB.

"O Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) tem por meta desenvolver o esporte para pessoas com deficiência severa, os casos mais graves, e o esporte para mulher. No CPB não é diferente. O Circuito está sendo uma ferramenta muito importante para o surgimento de novas atletas. Agora elas têm competições o ano todo para se manter treinando e motivadas", explicou o diretor técnico do CPB, Edílson Rocha Tubiba.

"Chegamos a ter cotas de convocação de mulheres em nossas delegações. Dos 30 nomes, por exemplo, 12 tinham que ser do sexo feminino. Em algumas modalidades ainda precisamos desse incentivo, mas o atletismo mostrou sua rápida evolução. Todas as atletas que vieram ao Mundial foram por índice próprio. E os resultados mostram a qualidade delas", justificou o diretor técnico.

Fonte: http://www.cpb.org.br/
Foto: Beto Monteiro-Exemplus/CPB

Aprovado valor limite para carro adaptado

O valor dos veículos adaptados para portadores de deficiência não poderá ultrapassar mais de 10% do valor de um veículo convencional equivalente. A proposta foi aprovada na última semana pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados.
O projeto aprovado (PL 2190/07) é um substitutivo do deputado Dr. Ubiali (PSB-SP) ao texto original, do deputado Márcio França (PSB-SP). Pela proposta, as montadoras devem conceder aos veículos adaptados as mesmas garantias oferecidas aos veículos convencionais.
A medida ainda será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania da Casa.
Obrigatoriedades
O projeto de lei ainda estabelece outras obrigatoriedades às montadoras, como a de produzir, no mínimo, três veículos adaptados a pessoas com deficiências a cada mil veículos fabricados, de cada modelo ofertado.
Todas as obrigações previstas na proposta valem tanto para as montadoras como para as importadoras de veículos ou empresas especializadas na instalação de kits de adaptação.
Para Ubiali, a medida tem a intenção de garantir a disponibilidade de veículos adaptados às pessoas que podem e querem comprar carros novos. Ele ainda lembra de outros incentivos para que os portadores de deficiências possam adquirir um veículo, como a isenção de IPI (Imposto de Produtos Industrialiados) a que tem direito esse tipo de veículo.
A medida tramita em caráter conclusivo, ou seja, não precisa ser votado em Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-la.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

INCLUSÃO SOCIAL E ACESSIBILIDADE: SOB A ÓTICA DE UM CADEIRANTE

O debate sobre o fenômeno exclusão/inclusão e acessibilidade encontra-se na pauta do dia. Partidos políticos, sindicatos, órgãos governamentais e órgãos não governamentais, Secretárias Públicas, escolas, sociedade, entre outros, dedicam parte de sua agenda a esta discussão. No entanto, falar em acessibilidade e inclusão não basta é preciso ação, visto que do ponto de vista particular, a pessoa com deficiência, por ser diferente, sempre encontrou dificuldades de participação na vida social, não só por enfrentar o preconceito, o isolamento com a diminuição das relações sociais e familiares e o estigma por parte da comunidade, mas também pela carência de políticas públicas que facilitem seu acesso ao transporte, à moradia, aos serviços de saúde, à educação, enfim, as necessidades básicas que os cidadãos têm direito.
A falta de acesso dificulta a sua participação e, conseqüentemente, reduz a sua condição de cidadania, limitando a possibilidade de uma maior convivência social. Assim, num ciclo vicioso, as pessoas com necessidades especiais se isolam e a sociedade não convive com a diferença no seu dia-a-dia, fazendo com que essas características se mantenham marginalizadas.
A marginalização é oriunda da forma com que a sociedade se estrutura (e estrutura social é uma questão política) logo, a solução para ela poderá ser encontrada apenas entre alternativas técnicas. A terminologia pessoa portadora de deficiência é uma referência que se faz a uma pessoa que possui anormalidade adquirida ou congênita.
Logo, a construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiências. Falar de sociedade inclusiva leva-se destacar a Constituição Federal/88 em seu art. 5º caput, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”.
Ora se todos são iguais perante a lei estaria implícito aí que cabe aos poderes públicos constituídos criar mecanismos que garantam esses direitos a todos os cidadãos. Recorre-se também aos ensinamentos de Werneck2 (2005, p. 50), quando traz o conceito de sociedade inclusiva desta forma: “Uma sociedade inclusiva deve ser capaz de contemplar todas as condições humanas e encontrar meios para que cada indivíduo, do mais “privilegiado” ao mais “vulnerável”, por qualquer razão e ponto de vista, tenha o direito de contribuir com seu melhor talento para o bem comum (grifos da autora)”.
Percebe-se nessas palavras que uma sociedade verdadeiramente inclusiva está muito aquém da realidade brasileira. Destarte, por desenvolvimento inclusivo pressupõe a idéia de uma distinção que supera o plano individual, portanto os direitos inerentes ao cidadão devem ser estendidos a todos que dele necessita.
Direitos esses que não pode ser traduzido em justiça social efetiva, pois a realidade presenciada nas cidades com suas barreiras intransponíveis, bem como em repartições públicas ou privadas não contempla a acessibilidade dos seus cidadãos. E, de fato, não existe nada que oprima mais a vida de uma PPD do que o pesadelo de se deparar com as malfadadas barreiras arquitetônicas. Degraus, portas giratórias ou estreitas, balcões e bilheterias altas, catracas na entrada de espetáculos, são apenas alguns dos obstáculos intransponíveis que retiram a independência da PPD. O mais interessante é que existem normas que norteiam a implementação das mudanças ambientais, de forma a eliminar as barreiras arquitetônicas. As normas são estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, na NBR 9050, de Setembro de 1994. ABNT: www.abnt.org.br.
Na Constituição de 1988, a mesma prevê, inclusive, a adaptação e acessibilidade dos prédios públicos já existentes (arts. 227, § 2º, e 244 da CF/88). “O que surpreende, pois, é o total descaso das autoridades para com a questão e o desrespeito explícitos aos mandamentos legais” (DIAS, 1998)3.
O que se deve esperar, então, dos prédios particulares e das instalações das empresas privadas?! Se os administradores públicos não oferecem condições favoráveis a essa realidade, o que se pode exigir dos empresários?! Difícil enfrentar o problema, enquanto não se tiver pessoas conscientes, aptas e preparadas para enfrentá-lo; enquanto os paradigmas não forem substituídos e os valores invertidos, infelizmente não se verá princípios efetivos que façam acontecer essa mudança tão essencial e necessária aos portadores de deficiência. É isso que deve ser mudado. O modo das pessoas pensarem e atuarem dentro de uma sociedade.
Vale ressaltar que de acordo com estatísticas existem cerca de 24,5 milhões de portadores de deficiências no Brasil. Boa parte deles necessitam de cadeira de rodas para se locomoverem, são os chamados “cadeirantes” (grifo meu). Grande parte deles tem uma vida ativa, trabalham e estudam e, por isso, precisam se movimentarem pelas cidades.
Outro problema incomensurável que assola esta população é na hora do lazer, visto que muitas salas de cinema e teatro, bares e restaurantes, por exemplo, ainda não se adaptaram à esse público. Existem calçadas que não são rebaixadas, principalmente na periferia, dificultando a locomoção nas vias públicas. Pessoas em cadeiras de rodas poderiam usar os sanitários de forma independente, se as portas tivessem dimensões que permitissem sua passagem.
Neste sentido, reporta-se ao município de Ariquemes Rondônia, cidade que escolhi para viver e fincar raízes. Até quando as ruas e avenidas terão obstáculos e/ou rampas feitas somente para dizer que existem? Tem uma praça na cidade que a rampa existente é instransponível (não obedece aos critérios exigidos por lei). Até quando os cadeirantes para assistirem a um filme no cinema terão que passar pelo constrangimento de serem carregadas à sala de projeção em virtude das barreiras que não permitem o acesso, até quando ir a bares precisa sair arrastando cadeiras para encontrar um local apropriado para ali ficar, e o setor hoteleiro que excluem essa população, visto que não existem banheiros adaptados ou o acesso a esses prédios é difícil, quando questionados sobre a acessibilidade os empresários simplesmente dizem: “não podemos fazer nada esses prédios são antigos” (grifos meu). Como assim, não podem fazer nada? Já fazem 22 anos da Constituição Cidadã que prevê que os prédios precisam ser adequados e ajustados para permitir o acesso de todos.
Acredito que, numa sociedade tão individualista como à presenciada na atualidade, muitos sequer fazem idéia ou imaginam como deve ser difícil a vida de um cadeirante. Digo pensar não de uma forma que aflore o sentimento de pena, mas sim que essas pessoas também tem direitos como qualquer outro cidadão. Por que então toda a população não abraça essa causa? Todos só teriam a ganhar.
Enfim, para concluir, a questão central. A sua cidade tem pensado neles? E você cadeirante, encontra-se satisfeito com a sua? Penso e acredito que é preciso fazer muita coisa ainda, você não pensa assim?
Logo, inclusão social de pessoas com deficiência é sim possibilidade, de tal modo como é possível a construção de uma sociedade mais digna para todos, com ou sem deficiência. É preciso que a sociedade troque os sentimentos de paternalismo, compaixão ou desprezo, por outros valorativos, respeitosos e reconhecedores, devolvendo ao deficiente físico a cidadania, o direito de participar desta caminhada que se chama de VIDA.

Óculos especial ajuda deficientes visuais a identificar obstáculos

No dia Internacional do Deficiente Físico, uma tecnologia desenvolvida por um pesquisador de São Carlos pode facilitar a vida dos cegos. Ele criou um óculos capaz de alertar os deficientes sobre obstáculos acima do chão.
O equipamento do engenheiro eletrônico José Pott é capaz de fazer a identificação a uma distância de um metro.
A ideia, programada por computador, foi feita a pedido de amigos de Pott que não enxergam. Dois sensores nas hastes vibram avisando o deficiente do perigo. "Eu fui melhorando esse software a medida que eu tinha um feedback das pessoas que usavam. Cada vez que elas me falavam eu ia atualizando", disse.
A aposentada Lúcia Strozi não enxerga há 19 anos, depois de um descolamento de retina. A bengala ajuda a identificar os obstáculos no chão, mas o problema está com as barreiras que ficam no alto. “Orelhões, galhos de árvores, lixeiras e tudo que está suspenso. Eu tenho vários amigos que se machucaram em carroceria de caminhão”, disse.
Lúcia é uma das voluntárias nos testes. Os óculos também podem ser usados como tiara. Em três meses, ela diz que muita coisa mudou. “Protege bem mesmo. Muito melhor”, destacou.
A pesquisa ainda depende de parceria, mas a previsão é que os óculos estejam no mercado já em 2011.
Campanha
Nesta sexta-feira (3), Araras realiza a campanha “Caminho Livre”, cujo objetivo é conscientizar os moradores a não jogar objetos nas calçadas que atrapalhem o trânsito de pessoas com deficiência.
Neste sábdo (4), em São Carlos, também estão programadas atividades às 10h, no calçadão. Além de receber panfletos com orientações, as pessoas poderão conversar com alguns deficientes sobre os problemas que eles enfrentam.
Veja a Reportagem completa
http://eptv.globo.com/noticias/NOT,3,3,326325,Oculos+especial+ajuda+deficientes+visuais+
a+identificar+obstaculos.asp

Deficiente ainda não conseguiu a carteira de habilitação

Somente dois Centros de Formação de Condutores (CFC) de Curitiba têm condições de atender deficientes físicos interessados em tirar a Carteira Nacional de Habilitação. A informação foi repassada para a bancária Rosimara Peres de Aguiar, que não possui os dedos da mão esquerda.
A situação de Rosimara foi acompanhada pelo Paraná Online em dezembro do ano passado, quando ela tentava fazer o exame médico especial do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR). O exame demorava entre três e quatro meses e Rosimara tinha a preocupação por causa das aulas teóricas, que já estavam em andamento.
O exame foi antecipado pelo Detran e feito normalmente ainda em 2010. Depois dessa etapa ter sido cumprida, ela passou pelas provas teóricas exigidas para tirar a habilitação e foi aprovada.
Mas outra dificuldade surgiu para Rosimara. O CFC onde ela firmou contrato para todo o processo comunicou que não poderia mais atendê-la, diante da necessidade revelada pelo exame médico de que ela precisaria de um carro com direção hidráulica e uma adaptação no volante.
“A autoescola me aceitou mesmo sabendo que eu tinha a deficiência e precisaria de um carro adaptado. Eu propus comprar a adaptação e a autoescola entraria com o carro, mas não deu certo. A autoescola já deveria ter me dito, antes de tudo, que não tinha condições de me atender”, reclama Rosimara. Ela já havia pago metade do custo para as aulas teóricas e práticas.
Rosimara foi informada, pelo próprio CFC que não poderia mais atendê-la, que somente duas autoescolas de Curitiba possuem veículos adaptados para pessoas deficientes.
Mas a bancária tomou mais um susto: nos dois CFCs, o preço somente para as aulas práticas era superior a R$ 1,3 mil. “Eu consegui negociar e vou pagar R$ 1 mil. Ou eu pago ou perco todo o processo. E estou determinada a tirar a carteira. O que mais me revoltou foi que o preço total, para as aulas práticas e teóricas, custava pouco mais de R$ 1,3 mil. E existem somente as duas autoescolas, que podem fazer o preço que quiserem. Deveria existir uma lei que regulamentasse isto”, afirma.Ela também foi informada de que nenhuma autoescola é obrigada a ter um carro adaptado.
Acordo
O CFC onde Rosimara fez as aulas teóricas informou que a bancária havia sido informada sobre a necessidade do exame especial e que dependia desse resultado para saber se poderia ou não atender a cliente. A autoescola ainda fez um acordo para devolver parte do valor já pago por Rosimara, ficando apenas o saldo equivalente às aulas teóricas.
Veículo próprio pode ser usado
O Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR) informou que não existe necessidade de autorização ou credenciamento para um Centro de Formação de Condutores (CFC) receber um deficiente.
O atendimento é considerado um serviço a mais por parte da autoescola. Por isso, de acordo com o órgão, não é possível determinar quantos centros ofertam o serviço atualmente em Curitiba.
A resolução 168/2004, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), diz que, para a instrução e exames, pode ser cadastrado um veículo disponibilizado pelo candidato - que deve estar totalmente adaptado.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Exame prova lesão na cabeça de cadeirante agredido em SP

Exame prova lesão na cabeça de cadeirante agredido em SP
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FÁBIO AMATO
DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

O exame de corpo de delito a que se submeteu o advogado e cadeirante Anatole Magalhães Macedo Morandini, agredido na semana passada por um delegado em São José dos Campos (SP), apontou que as lesões na cabeça e no rosto foram provocadas por um 'objeto contundente.'
Delegado que bateu em cadeirante é afastado do cargo
Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Advogado Anatole Morandini, que foi agredido por delegado em briga por vaga em estacionamento no interior de SP
De acordo com o corregedor da Polícia Civil no Vale do Paraíba, Antonio Alvaro Sá de Toledo, não é possível saber, por meio do exame, se as lesões foram provocadas pela coronha de um revólver, como afirmam Morandini e testemunhas da agressão.
Toledo disse, porém, que as provas já levantadas são suficientes para descartar a hipótese de que o próprio cadeirante tenha provocado os ferimentos.
A Secretaria de Segurança Pública informou que o delegado 'sofreu afastamento total' de suas funções por 30 dias. Isso significa que o delegado Damasio Marino não cumprirá sequer funções administrativas neste período.
No dia 17 de janeiro, Morandini repreendeu o delegado por estacionar em uma vaga especial destinada a deficientes físicos.
O cadeirante afirma que, depois disso, o delegado o agrediu com coronhadas e bateu com o cano da arma em seu rosto, ameaçando-o.
Por meio de seu advogado, Marino nega as coronhadas, mas admite ter dado 'dois tapas' no cadeirante após ter sido xingado e recebido uma cusparada.
O delegado diz que parou na vaga porque acompanhava a noiva, grávida de quatro meses.
Na semana passada, ao ser questionado sobre os ferimentos de Morandini, o advogado do delegado, Luiz Antonio Lourenço da Silva, disse que o cadeirante estava mentindo e que havia provocado 'autolesão'.
Ontem, o advogado de Marino não quis comentar o resultado do exame nem a declaração do corregedor.
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em São José dos Campos, no interior de São Paulo

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em São José dos Campos (SP)

Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em São José dos Campos (SP)
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FÁBIO AMATO
DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


Um advogado cadeirante apanhou de um delegado em São José dos Campos (91 km de São Paulo), em briga por estacionamento em vaga pública reservada para pessoas com deficiência.
O advogado Anatole Magalhães Macedo Morandini, 35, diz que foi agredido com coronhadas.
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Advogado Anatole Morandini, que foi agredido por delegado em briga por vaga em estacionamento no interior de SP
Já o delegado Damasio Marino, por meio de seu advogado, afirma que não o bateu com arma de fogo, mas que lhe deu "dois tapas".
A briga começou quando Morandini flagrou o delegado, que não tem deficiência, estacionado na vaga especial, em frente a um cartório na região central de São José, e foi tomar satisfações.
"Ele [delegado] me chamou de aleijado filho da puta. Eu fiquei enojado, e a única coisa que consegui fazer foi cuspir no carro dele, porque me senti desrespeitado."
Ainda segundo Morandini, o delegado do 6º Distrito Policial da cidade, além de lhe dar coronhadas, também bateu em seu rosto com a ponta da arma.
Ele mostrou à reportagem uma camiseta com manchas de sangue, que diz ser consequência da agressão. Uma funcionária do cartório também diz que viu Morandini sangrando após a briga.
"Ele apontou a arma, fez mira. A única coisa que eu fiz foi virar o rosto devido ao trauma que já tenho", contou o advogado, referindo-se ao tiro que levou durante um assalto, aos 17 anos, e que o deixou paraplégico.
Já o defensor do delegado diz que ele é que foi intimidado e que estava parado na vaga especial porque sua mulher está grávida.
A corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar a suspeita de lesão corporal dolosa (quando há intenção ou se assume o risco de cometer o crime).
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em São José dos Campos, no interior de São Paulo
OUTRO LADO
O advogado Luiz Antonio Lourenço da Silva, que representa o delegado Damasio Marino, negou que seu cliente tenha agredido com coronhadas o também advogado e cadeirante Anatole Magalhães Macedo Morandini.
Silva diz que Damasio deu "dois tapas" em Morandini, mas só depois de ser xingado e receber uma cusparada. Para Silva, "esse cadeirante procurou o confronto."
O advogado também negou que Damasio tenha xingado Morandini ao ser repreendido. Segundo Silva, o delegado reagiu após Morandini cuspir em sua cara.
"Ele [delegado] não entendeu o que estava acontecendo. Desceu do carro e o cara veio com a cadeira de rodas para cima dele. [Morandini] cuspiu de novo e o xingou, então ele [delegado] pegou e deu dois tapas no cara."

domingo, 16 de janeiro de 2011

VIVA A DIFERENÇA


PGM e CPPD definem alteração de Lei - 06/01/2011 17:05

Em reunião ocorrida na quinta-feira, 6 de janeiro, que contou com o coordenador de Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiência (CPPD), Darwin Kremer, o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CMDPPD), Ricardo Seewald, e o procurador Geral do Município, Ruy Noronha, foram discutidas mudanças na redação final do projeto de lei que busca reformular a Lei 089/98 que trata do CMDPPD.

As principais alterações referem-se ao nome do conselho, que adotará o uso da terminologia adequada, com o objetivo de oficializar o termo “Pessoa com Deficiência”. Além disso, a composição do conselho passará para 24 membros, sendo que atualmente são 18. Também será criado o Fundo Municipal para Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Todas estas alterações serão enviadas à Câmara de Vereadores após o recesso parlamentar

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Declaração de amor à vida de Marco Antônio de Queiroz

Declaração de amor à vida de Marco Antônio de Queiroz

Diabético aos 3 anos e cego aos 21, em conseqüência de retinopatia diabética, Marco Antonio de Queiroz não deixou que isso se transformasse numa barreira intransponível. Pelo contrário, armou-se de coragem e enfrentou a vida de peito aberto. Estudou história na PUC Rio, fez um curso de programador de computadores e trabalhou durante 23 anos até se aposentar em conseqüência de dois transplantes, um de pâncreas e outro de rim. Casado, pai de um filho, publicou em 1986 o livro Sopro no corpo, no qual narra sua história até 1985, contando como ficou cego, como aprendeu a usar a bengala e a perder o medo e a vergonha de ser deficiente e ir à luta. Agora, ele relança a obra com o título “Sopro no corpo: vive-se de sonhos”, pela Editora RiMa. Além de contar sua história até hoje, também explica como a vida dos cegos mudou com a internet. Nessa autobiografia, optou por narrar sua vida da mesma forma que a leva, com bom humor e suavidade. “Revelo minhas vitórias e derrotas, dores e prazeres para, no final, o leitor sentir que ela é um romance intenso, movimentado, que amo a vida justamente porque, com todos os meus limites, realizei meus maiores sonhos”, afirma. O livro pode ser definido como uma declaração de amor à vida.

ESTADO DE MINAS – Como você aprendeu a lidar com a deficiência visual?

Marco Antonio de Queiroz – Ser cego, realmente, não é como as pessoas imaginam ser quando fecham os olhos por um minuto e tentam fazer algo. Fiquei cego aos 21 anos e não tinha nenhum tipo de contato com essa realidade. Não dá para acreditar muito que aquilo que aconteceu é definitivo. Você não se sente cego, mas percebe a coisa como se fosse momentânea, até que a consciência da realidade aparece de frente e não há saída possível. Passei, então, por uma fase de entendimento da deficiência em que aprendia a andar, a me vestir, a tomar banho, pegar condução e, aos poucos, já estava retomando minha faculdade e aprendendo cada vez mais como fazer as coisas sem ver. Arrumei trabalho, casei, tornei-me pai e escrevi um livro. Ou seja, retomei a vida.

A perda da visão foi gradativa ou aconteceu de uma vez?

MAQ – Sendo simplista, posso dizer que encostei meu carro na garagem, no sábado de Carnaval de 1978, subi para o apartamento, dormi e acordei cego. Apesar de perceber vultos que poderiam me dar orientação se tivesse experiência, não consegui andar sozinho. Depois, no entanto, os vultos se foram. Agora, faço tudo o que posso sozinho, e não é pouco. No livro, conto tudo isso.

Teve algum momento em sua vida que você se desesperou ou ficou se perguntando: “Por que isso aconteceu comigo?” Você procurou respostas ou aceitou o fato naturalmente?

MAQ – Acho que aceitei minha cegueira com muita rapidez. Para isso ser entendido, posso explicar que já era uma pessoa que, apesar de ter muitos amigos, sentia-se meio fora de esquadro, diferente dos outros. Quando veio a deficiência visual, ser mais diferente do que já me sentia por ser diabético não foi traumático, foi tão somente uma importante dificuldade a ser ultrapassada. Sentir-se diferente e ser diferente podem ser coisas que venham juntas ou não. Eu já me sentia diferente. Socialmente, tive vergonha de ser cego, mas logo que encarei o fato, fui à luta. À falta das imagens a gente se adapta até com rapidez. O problema quase sempre é muito mais emocional que prático.

Você fala no livro que o cego é educado dentro de conceitos distorcidos. O que significa isso?

MAQ – Significa que, em geral, nós, os cegos, somos educados para não fazer nada. Tudo chega às nossas mãos. A família se reveza para que não toquemos nas coisas, com medo que nos machuquemos ao realizar as tarefas mais simples. Isso é a superproteção. Quando o cego consegue, por exemplo, usar uma faca para cortar o pão, o queijo, aprende a utilizar a torradeira automática ou mesmo, por vezes, tenta pegar um copo d’água, a família fica tensa e, muitas vezes, corta-lhe a iniciativa. Assim, alguns de nós acabam ficando exatamente o que as pessoas imaginam que seja um “ceguinho”. Ou seja, uma pessoa incapacitada para qualquer coisa prática. No entanto, tenho amigos cegos que já escalaram o Pão de Açúcar, já foram à Inglaterra sozinhos para fazer cursos de inglês, trabalham e moram sozinhos ou casados com pares cegos ou com visão. O cego tem que ter atitude para conseguir sua emancipação, sua liberdade.

Você enfrentou preconceito na faculdade e no trabalho?

MAQ – O preconceito, com o tempo, vai se desfazendo socialmente. Mas esse é um processo bastante lento. As pessoas, cada vez mais, se acostumam a ver um cego no cinema, no teatro, no trabalho, nas reuniões, andando com certa independência pelas ruas, aparecendo aqui ou ali. A mídia, a novela, as páginas da internet (www.bengalalegal.com é meu site), enfim, nossa presença cada vez maior no meio social acaba por fazer as pessoas acostumarem conosco, questionarem-se sobre o que podemos ou não fazer. No entanto, ainda temos que enfrentar muito preconceito, proveniente do desconhecimento e da ilusão das pessoas que imaginam, mas não conhecem a nossa realidade. Passei por preconceitos na faculdade e no trabalho, mas sempre dei a volta por cima e espero que isso continue. Por outro lado, a convivência com as pessoas cegas faz com que todos acabem por perceber que não somos exatamente como pensam. Com isso, o preconceito se modifica, tornando-se mais ameno.

O que mudou depois do transplante de rim e pâncreas? A expectativa que você tinha antes se realizou ou você teve que se adaptar?

MAQ – Tanto os meus transplantes quanto a cegueira são conseqüência crônica da diabetes. Se ela não for bem tratada, se o diabético não assumir a camisa de que tem a doença, e não seguir as regras que ela dita inexoravelmente, poderá passar por tudo o que passei. Os transplantes são a solução mais moderna e completa existente para nós, diabéticos que perderam – ou estão por perder – as funções renais ou qualquer outra perda, como a da visão, e que estão com uma diabetes completamente descontrolada. Meu transplante de rim foi sucesso total. Eu fazia tratamento de hemodiálise há três anos e a mudança foi da água para o vinho. Diria mais: do inferno para o céu. O transplante de pâncreas eu repetiria mil vezes, se fosse necessário, mas seu sucesso, ao contrário do que acontece com a maioria das pessoas que o fazem, no meu caso não foi completo. Ele é feito para acabar com os sintomas da diabetes e, no meu caso, não preciso mais tomar insulina. Portanto, deixei de ser um diabético insulino-dependente, mas ainda tenho que fazer dieta e tomar remédios para resistência à insulina, pois o açúcar no sangue sobe quando cometo abusos. A qualidade de vida que esses transplantes me proporcionaram foram excepcionais. Posso dizer que, organicamente, sou outra pessoa. É bom salientar que o transplante de pâncreas só é feito em pessoas com diabetes do tipo 1, que já estejam com alguma conseqüência crônica da doença. Tratar a diabetes, controlar o nível glicêmico é muito mais simples que fazer transplantes e se submeter à imunossupressão, tratamento para que nossas defesas orgânicas não ataquem os órgãos transplantados.

É fácil viver numa sociedade que coloca muitas barreiras para a pessoa com deficiência?

MAQ – É mais fácil ser cego do que ser visto como cego. É mais fácil ser uma pessoa com qualquer deficiência que seja, do que ser visto como uma pessoa deficiente. É mais fácil ser gordo do que ser visto como gordo... sou magro. Todos gostaríamos de olhares mansos sobre nós. O olhar preconceituoso pode ferir, pois é ele que gera as atitudes.

Já mudou muita coisa ou a sua percepção é de que o preconceito ainda é muito forte?

MAQ – As idéias mudam antes que as atitudes. Podemos ser politicamente corretos nas palavras, fica bonito, mas na hora da coisa acontecer espontaneamente, o preconceito aparece na maioria das vezes. Porém, nesses 27 anos de cegueira, percebo mudanças acontecendo e a sociedade, em geral, se aproximando, querendo saber, solidarizando-se.

O que você pretende passar no livro?

MAQ – Pretendo mostrar minha história de vida. Sopro no corpo: vive-se de sonhos é uma autobiografia na qual revelo minhas vitórias e derrotas, dores e prazeres para, no final, o leitor sentir que ela é um romance intenso, movimentado, que eu amo a vida justamente porque, com todos os meus limites, realizei meus maiores sonhos. Por isso, com toda a luta, não deixo de sonhar. Todos que lerem meu livro vão perceber que a vida me deu muitos presentes e que, por isso mesmo, não a deixo aos pedaços pelo caminho. Estou vivo, amo a vida.

“É mais fácil ser uma pessoa com qualquer deficiência do que ser visto como uma pessoa deficiente”