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sábado, 7 de maio de 2011

Pedagoga transforma pessoas com deficiência em bailarinos


Quem tem a oportunidade de ver a jovem Lívia Andrade, 26 anos, no palco, pode comprovar que para a dança não existem limites. Portadora de gangliosidose, uma doença genética rara causada pela falta de uma enzima fundamental para o funcionamento dos neurônios, Lívia e sua família encontraram na dança uma forma de reinventar a vida, seus personagens, histórias e lições. O tempo de Lívia é outro. Sentada na cadeira de rodas, sem poder andar ou falar, a jovem que sempre amou os palcos e sonhava em fazer teatro quando criança conseguiu, por meio da dança, uma forma de traduzir suas emoções, sensações e inquietações, dando uma nova cor e uma nova forma ao seu corpo.

“É contagiante ver a alegria de Lívia quando ela está no palco. Ela não precisa saltar ou fazer malabarismo com o seu corpo para estar dançando. Basta olhar o brilho nos seus olhos e o sorriso que estampa o seu rosto”, confessa sua mãe, Raquel Firmino Andrade, de 45 anos, que além de Lívia, possui um outro filho, Eric Andrade, 22 anos, com a mesma doença da irmã, e a caçula Bárbara, de 18 anos. Juntos, eles se entregam a dança e sobem ao palco todos os sábados para ensaiar novos passos de uma coreografia improvisada. A oportunidade de dançar com toda a família aconteceu devido a iniciativa da bailarina e pedagoga Keyla Ferrari Lopes, idealizadora e presidente da ONG Centro de Dança Integrado (CEDAI), em Campinas, que coleciona histórias comoventes de superação como as de Lívia e sua família.

Keyla abandonou a carreira de bailarina profissional para ensinar crianças e adultos a dançar. Aos 17 anos de idade, começou então a se apresentar em asilos, orfanatos e instituições de pessoas com deficiência, onde diz ter recebido os aplausos mais sinceros e verdadeiros da vida dela. Numa destas apresentações, crianças com deficiência mental não se contentaram em olhar e mostraram que queriam e podiam dançar também. “Foi neste momento que eu decidi me dedicar a ensinar coreografias às pessoas com deficiência, sejam elas físicas, motora, mentais ou sensoriais”, conta a bailarina.

O projeto já existe há 14 anos, porém, como organização efetiva, há pouco mais de oito, e é visto como uma nova maneira de olhar e contemplar as linguagens corporais e estéticas da dança. Há quem diga que é um estado de libertação. Talvez o mais apropriado seja chamar de atividade inclusiva. Keyla explica que, ali, todos são iguais por terem as mesmas possibilidades de participação. Os movimentos não são predeterminados para não correr o risco de excluir algum participante. "Não posso dar um comando que alguém do grupo não possa fazer." Durante a aula, segundo ela, todos entram em contato com seus limites e com os dos outros. Ninguém cuida de ninguém. Se precisarem de ajuda, vão pedir. E terão. "Isso muda o jeito de ver as coisas. E não é através do discurso, é da experiência."

Atualmente o Cedai atende cerca de 50 alunos de várias faixas etárias e de diferentes potencialidades artísticas e rítmicas. Segundo Keyla, há espaço, inclusive, para as pessoas que não mexem um músculo sequer do pescoço para baixo. “A condição aparente das pessoas com algum tipo de deficiência limita o nosso olhar. Estar numa cadeira de rodas, por exemplo, não significa que aquela pessoa está impedida de dançar”, diz bailarina, que nos ensaios dança com seus alunos.

O Cedai possui hoje dois espetáculos de dança prontos para serem apresentados, são eles: A Flor é Espelho, que conta a história de um amor universal entre uma mãe e sua filha com necessidades especiais; Alma Bailarina e Somos Um, que utiliza diversas manifestações artísticas (música, dança e teatro) para interagir com o público e explorar sua sensibilidade. Os espetáculos foram concebidos em cima das poesias de Vicente Pironti e Iara Marta. Para assistir aos ensaios ou participar das aulas, basta se inscrever na sede do Cedai, que fica na Rua Benedito Gomes Ferreira, nº 600, Parque Via Norte, Campinas. As aulas são gratuitas e os ensaios acontecem regularmente aos sábados. Os espetáculos também estão sendo levados para diversas empresas como programa motivacional de funcionários.

Além do trabalho de inclusão através da dança, Keyla Ferrai possui diversos livros infanto-juvenis lançados, todos baseados em histórias reais vividas pelos seus alunos no Cedai, como O Giro da Bailarina, A Casa Amarela, Um Menino Genial e João – O Palhaço Coração. Os livros estão à venda em todas as livrarias do país.

Fonte: http://www.pautasocial.com.br/

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