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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pedestres e cadeirantes no ‘calvário’







“Cadeirante também é pedestre”, destaca o advogado Eduardo Jannone da Silva, 34 anos, tetraplégico há 8. “Nós também utilizamos o passeio. Andamos com rodas, mas também somos pedestres”, completa. Eduardo é coordenador do Comude (Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência) e da Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência da OAB. Como pedestre, ele não se sente seguro.

Ele aponta a questão primordial que limita ainda mais a locomoção da pessoa com deficiência. “O nosso principal problema é a calçada”. Calçadas íngremes demais, tortas, sem rampas de acesso ou com rampas mal feitas... Tudo isso, segundo ele, põe em risco o “pedestre de rodas”.

“Se cada proprietário cuidasse de sua calçada de acordo com o que está na lei, ninguém teria problema”, ressaltou Eduardo, que completa. “Isso não é apenas problema do deficiente, mas também de idosos, que têm dificuldades em se locomover”. Por conta da tetraplegia, Eduardo prefere não se arriscar, mas andou um pouco com a reportagem avaliando os pontos de acessibilidade.

Na primeira esquina, problemas. A falta de rampa para atravessar a rua e “driblar” detritos. “Além de não ter como passar aqui, a gente ainda divide espaço com o lixo”, lamentou. Continuando o percurso, a rampa de acesso foi encontrada, mas fora das especificações, segundo ele.

“Às vezes a rampa acaba sendo uma armadilha porque é fora do padrão. Quando a rampa está mal feita, é perigoso levarmos um tombo”, explicou Eduardo.

Dificuldade

O problema para andar pelas ruas e calçadas de Bauru não é exclusividade dos cadeirantes. No cotidiano, vários bauruenses reclamam da má construção e da falta de estrutura de calçadas de passeio público. “Em todo lugar que você anda em Bauru, você vê problemas. Uma hora é calçada torta. Outra hora é calçada pequena”, critica o metalúrgico Luiz Carlos de Oliveira, 51.

A responsabilidade pela fiscalização e organização das calçadas de Bauru é da Secretaria de Planejamento e da Secretaria de Obras. No entanto, cada proprietário de imóvel é responsável pela sua calçada.

Com isso, quem tem casa ou estabelecimento comercial é obrigado a cuidar de sua calçada - inclusive as rampas para acessibilidade - e fazer com que ela esteja apta para que os cidadãos possam caminhar com segurança. “Nós registramos aqui as reclamações de má construção e problemas nas calçadas de Bauru. Então, notificamos o responsável, que deve tomar providências. Se nada for feito ele é multado”, afirma a chefe dos ficais de obras de Bauru, Maria Lusia Carvalho de Almeida.

Fora da faixa

Sonia Zuega Cappellosa, 84, costuma andar pelos ruas do jardim Dona Sarah, Zona Sul. E não atravessa na faixa. “Elas são tortas e mal planejadas. É melhor e mais seguro atravessar fora”, diz. Ao BOM DIA, atravessou em faixa pela Antônio Alves com Abo Arrage para mostrar como a pintura está gasta.

A história de Sonia é só um dos exemplos de cidadãos que têm que se virar para não sofrer um acidente ou caminhar com segurança. “É um absurdo. Os cidadãos ficam expostos ao perigo dos carros por falta de planejamento das calçadas”, afirma.

Emdurb trabalha com sinalização para evitar acidentes

O BOM DIA convidou o especialista em trânsito da Emdurb para visitar dois pontos importantes em Bauru, onde o alto fluxo de veículos coloca os pedestres em risco. O primeiro local visitado foi o cruzamento entre a avenida Comendador da Silva Martha com a rua 13 de Maio.

O local recebeu há pouco tempo a implantação de semáforos - serviço estudado e organizado pela Emdurb -, em uma tentativa de organizar melhor o trânsito. “Essa é uma região que tinha conflito veicular na fase de verde, prejudicando não só os motoristas, mas também os pedestres que gostariam de atravessar no local”, explica o gerente de planejamento viário da Emdurb, Aníbal dos Santos Ramalho.

Para o especialista, uma boa sinalização nas vias da cidade pode ser a solução para que o pedestre consiga andar tranquilo no trânsito. “O atropelamento é o acidente mais grave no trânsito. Por isso, fazer trabalhos para que haja uma boa sinalização é essencial para que o pedestre seja respeitado”, explica Aníbal Ramalho.

O segundo local visitado pela reportagem do BOM DIA foi o cruzamento da rua Antônio Alves com a Abo Arrage, região sul da cidade - onde a faixa está “desbotada”, conforme mostrou a aposentada Sonia Zuega Cappellosa. O local é considerado de “alta necessidade” e deverá ganhar semáforo. “Nós vemos locais que a população reclama com mais frequência. Antônio Alves com Abo Arrage é um desses exemplos”, explica Aníbal.

Com frota registrada de 220 mil veículos, Bauru tem 145 cruzamentos semaforizados e trabalha para que pelo menos um cruzamento ganhe sinalização por mês. No entanto, para Aníbal, além das sinalizações, existe uma questão fundamental: conscientização.

“Tanto os motoristas quanto os pedestres têm que entender que a responsabilidade que existe no trânsito”, analisa. Segundo o CBT (Código Brasileiro de Trânsito), a prioridade no trânsito é sempre do pedestre nas vias urbanas.

Fique atento!
Segundo o tenente Roberto Trujillo Júnior, da Base de Trânsito, o maior fator para atropelamentos é a falta de atenção. Idosos e crianças são os que mais sofrem esse tipo de acidente.

70
Pessoas foram atropeladas nos primeiros 4 meses de 2011, com 6 mortes.
Em 2010, foram 72 atropelamentos no período com 8 mortes.

A quem recorrer
Secretaria de Obras Avenida Nuno de Assis, 14-60, Centro. (14) 3235-1111
Emdurb Terminal Rodoviário: praça João Paulo 2º, s/n.
(14) 3233-9094.

Opinião
Qual a maior dificuldade de ser pedestre?
‘Calçadas desniveladas, que podem fazer você sofrer uma queda’
Valdirene Costa, 42 anos, cozinheira

‘O mato cresce nas calçadas e nos força a andar no meio da rua’
Reginaldo Pereira, 54 anos, servidor público

Fonte: http://www.redebomdia.com.br

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