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domingo, 23 de agosto de 2009

Calçadas livres melhorariam acessibilidade em Salvador

Calçadas livres melhorariam acessibilidade em Salvador
Kleyzer Seixas, do A TARDE On Line
Aristides Baptista / Ag A Tarde/Arquivo
Buracos e outros obstáculos são riscos para deficientes
Quatro anos depois do decreto federal 5.296, de 2004, que obriga a adequação e adaptação de todos os espaços públicos para os deficientes, as pessoas que possuem algum tipo de limitação física ainda encontram dificuldades para se locomover em Salvador. A cidade, segundo os próprios deficientes, pouco avançou na implantação de políticas públicas para atender a essa população de pouco mais de 400 mil pessoas.O maior problema está nas calçadas da cidade. Esburacadas ou cheias de obstáculos como vendedores ambulantes, postes, telefones públicos e lixeiras, esses locais que deveriam oferecer segurança aos pedestres em geral, sobretudo os deficientes, se mostram obstáculos quase intransponíveis. Em visita à capital baiana, o arquiteto da prefeitura municipal de São Paulo, José Renato Melhem, que nesta sexta-feira, 30, apresentou a palestra “Acessibilidade e Revitalização das Vias Públicas”, defende justamente a melhoria das condições de uso das calçadas como primeira condição para garantir a locomoção dos deficientes no espaço urbano.Coordenador do Programa Passeio Livre, na capital paulista, José Renato diz que o ideal é padronizar as calçadas para que as pessoas caminhem livremente e não encontrem obstáculos. “A idéia é liberar a calçada para deixar a área para o pedestre caminhar. Para que seja acessível a todas as pessoas, com ou sem restrição de mobilidade”.Segundo o arquiteto, 280 quilômetros de passeios foram padronizados em São Paulo e os resultados são animadores. Em toda essa extensão, foram introduzidas seis mil rampas. “Já dá para ver uma diferença muito grande. As pessoas percebem não só pelo conforto, mas visualmente é melhor também. Houve diminuição do número de acidentes com pedestres e aumento da venda no comércio em 20%”, destaca.A iniciativa em São Paulo pode servir de modelo para outras capitais brasileiras como Salvador, acredita Melhem. “É preciso trabalhar para resgatar o uso do espaço público. Caso contrário, as pessoas continuarão sendo prejudicadas. E não somente aquelas com deficiência, mas também outras que têm certas restrições, como as gestantes, os idosos, os obesos. E aí podemos perceber que é uma grande parcela da população”.Para melhorar as condições dos passeios, é preciso pensar a calçada como parte do sistema viário e não como área particular, como vem ocorrendo em diversas cidades brasileiras, adverte o arquiteto. “A calçada deve ser vista como algo contínuo, de esquina a esquina”, completa.OBSTÁCULOS - A rotina do candeirante Wilson Cruz, que tem paralisia total dos membros inferiores, é uma prova do quanto a falta de ordenamento das calçadas pode limitar a vida dos cidadãos com deficiência. Morador do bairro de Cosme de Farias, Wilson Cruz trabalha na Mouraria e encontra diversos transtornos para chegar até seu destino: as calçadas são quebradas, desniveladas e cheias de obstáculos. Além disso, não há rampas na maioria dos locais por onde passa. Para piorar, na Lapa, onde Wilson desembarca do ônibus para chegar até a Mouraria, é obrigado a subir as escadarias da estação de transbordo com a ajuda de outras pessoas. Insatisfeito com o roteiro pelo qual é obrigado a passar diariamente, Wilson reclama das tímidas iniciativas do poder público para resolver o problema da acessibilidade. “Estão dando banho de asfalto em diversas ruas, mas não cuidam das calçadas. É como se só existissem apenas os carros e os pedestres e cadeirantes fossem invisíveis”. Outro que se queixa é Jefi Ribeiro, também deficiente, que acredita que a cidade “não tem avançado em nada” na questão da acessibilidade. “Os passeios são quebrados e não existe manutenção”. O coordenador da ONG Vida Brasil em Salvador, Heron Cordeiro explica que, após o decreto da União, apenas os espaços privados e federais de Salvador têm oferecido ferramentas para auxiliar deficientes físicos, o que inclui cadeirantes e pessoas com deficiência visual. “O poder público tem obrigação, mas nada disso vem sendo feito, os prazos já expiraram e ainda estamos na mesma situação”, destaca.A reportagem do A TARDE On Line procurou a Coordenadoria de Apoio à Pessoa com Deficiência (Coap), da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedes), da capital baiana, que se ocupa dos projetos voltados para pessoas com deficiência física, mas os responsáveis pelo órgão não foram encontrados para comentar o assunto.

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